Já parou para pensar que o que a humanidade chama de “amor” é uma grande causa de conflitos desnecessários e de muito sofrimento?
Quando vivemos motivados por um amor, ou esperando um amor, muitas vezes criamos expectativas distorcidas da realidade. O amor é frequentemente confundido com diversos outros sentimentos, que se observássemos de forma neutra, saberíamos defini-los com maior exatidão. O que nos pouparia sofrimento e tempo.

Primeiro, vamos entender como o amor é processado no cérebro. Por ser uma emoção complexa, age em várias partes. No sistema límbico, processa emoções intensas como o medo e prazer. No hipocampo, se relaciona à formação de novas memórias. O córtex pré-frontal é responsável por modular as emoções, auxiliando na avaliação de relacionamentos. O núcleo Accumbens tem relação com o sistema de recompensa do cérebro, associado aos sentimentos de prazer e euforia, assim como o Estriado Ventral, também envolvido em processos de motivação e desejo. E o Hipotálamo, regulando hormônios como oxitocina e vasopressina, desempenhando papéis importantes no apego e criação de vínculos emocionais. Todas essas áreas atuam em conjunto para criar a complexa experiência emocional que envolve desde a paixão intensa até o apego profundo. Portanto, podemos entender que o amor não é uma emoção, mas um conjunto de reações e relações entre diferentes estímulos.
É necessário entender também a origem da palavra amor. De origem no latim, amor descreve o sentimento de afeição, desejo, paixão e amizade. No grego, existem várias palavras que representam amor. Ágape para o amor incondicional e altruísta, Éros para o amor apaixonado, Philia para a amizade e amor fraternal, Storge para o amor familiar e Xenia, para o acolhimento e hospitalidade.

Seus diferentes significados nos fazem refletir sobre a carga emocional das palavras como resultado de nossas crenças e condicionamentos. Quando utilizamos palavras de forma irrefletida, sem compreender seu contexto real, estamos agregando uma carga emocional distorcida ou equivocada a situações que irão se desdobrar segundo as formas-sentimento e pensamento que projetamos sobre elas. É justamente essa carga emocional que alimenta diversos processos espirituais. Através dessas crenças de submissão, dívida e contratos cármicos, apego e dependência física, damos força a diversos quadros obsessores, magias, feitiços e maldições, alimentando, sem saber, o mesmo monstro que queremos destruir.

Portanto, atenção a juras eternas de amor, a promessas de união após a morte e contratos semelhantes, pois pode parecer algo inofensivo e romântico no início. Mas pode se tornar um fardo ao longo do tempo, aprisionando os envolvidos por gerações.
O QUE NÃO É AMOR?
Então, vamos refletir sobre o que não é amor, como um processo de observação e autoconhecimento. Acho difícil que alguém consiga definir o que é amor sem agregar algum desses sentimentos. (Vamos refletir sobre o amor expressado nos relacionamentos em geral, não apenas sobre o amor romântico.)
Apego não é amor. É costume, é condicionamento. É aquele sentimento que traz conforto e suposta segurança. Buscar segurança no amor é totalmente antagônico. Segurança não é amor. Compromisso não é amor. Para existir compromisso, há um conflito inicial exigindo que regras estabeleçam esse contrato. Prisão não é amor. Se não houver total liberdade, não há amor.
Medo não é amor. Se para existir amor é necessário liberdade, é natural que a separação ocorra. Pela vida ou pela morte. Se você ama, deve estar pronto para perder. O medo de ser abandonado ou ficar sozinho não é amor.
Obediência ou submissão também não são amor. Isso é medo. Dívida não é amor, mas contrato.
Conforto emocional também não é amor. A busca pelo conforto é semelhante à busca pelo prazer. Temos desejo por conforto, segurança, por sermos cuidados, apreciados, admirados. Nada disso é amor.

Sofrimento não é amor. Não é doação, não é compaixão ou empatia. Expectativa de ser reconhecido por seu esforço ou trabalho também não é amor. Dar aquilo que você não tem não é amor.
Dúvida não é amor. A dúvida causa ciúme, desejo de posse. Novamente, se para haver amor é necessário liberdade… se você sente ciúmes, não há amor. Pode dar o nome que desejar, menos amor. Agora, não use o argumento que amor é igual a liberdade para justificar a libertinagem ou safadeza. Prazer sexual não é amor.
Impor ao outro a sua verdade não é amor. Se você ama, o outro tem o direito de buscar a própria verdade e experimentar o resultado de suas escolhas. Necessidade de controle é insegurança, não é amor.
Gostar não é amar. Você gosta de sorvete, de flores vermelhas, de lasanha. Você até pode enlouquecer por alguém como quem enlouquece pelo par de sapatos da moda. Mas isso não é amor. É imaturidade e capricho.
Classificar, qualificar, ranquear não é amar. Competição não é amor. “Amo meu Deus porque ele é o maior. Amo fulano porque ele é o melhor, o mais isso ou aquilo.”
Amar não é sobre você, seu ego, seus desejos, suas necessidades, suas carências, suas faltas e buracos abertos. Não é sobre o papel que você desempenha como mulher, homem, pai, mãe, filho, avô, profissional. Não é sobre suas regras, suas condições, seu espaço, seus direitos.
Amar também não é um dom do espírito. Se não sabemos o que é amar no mundo físico, material, saberíamos o que é amor a partir da perspectiva do espírito? Ou saberíamos descrever o amor do ponto de vista da espiritualidade sem termos experimentado o amor no mundo físico? O amor é usado de forma irresponsável por vários canais ou líderes espirituais para gerar uma fraqueza mental em seus seguidores, fazendo com que as pessoas acreditem que a espiritualidade age por amor, abrindo seus corações para qualquer um que diga “amar” a humanidade. O que não é necessariamente verdade. Tudo no universo se move a partir de ação e reação. Tudo é uma troca. Pense sobre isso.
O oposto do ódio não é o amor, assim como a escuridão se opõe à luz. Basta conhecermos as sombras para diferenciar a luz da escuridão. Mas podemos viver a vida toda no ódio, no medo, na dúvida, no sofrimento, sem necessariamente conhecermos o amor. Especialmente se carregarmos crenças holográficas sobre como o amor deve ser. Certamente nunca o conheceremos, pois esse amor holográfico foi criado para que nunca o alcancemos. O amor holográfico é inatingível.
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Portanto, não busque por amor. Ele não está em lugar algum fora de você. Concordo com Epiteto em A Arte de Viver , quando ele diz que “o segredo é ir em frente decidido a curar a própria vida. Seu remédio é expor, sem hesitar, inflexível e obstinadamente, as premissas falsas e enganadoras nas quais baseamos nossa vida e nossa identidade.”
Muito do que acreditamos ser amor, é resultado das crenças que carregamos. Avalie suas crenças e valores atribuídos a conceitos holográficos, que existem apenas para perpetuar o sofrimento. Quando você diz a si mesmo “fiz por amor”, ou “fiquei por amor”, significa que você fez escolhas. Não coloque na conta do amor se essas escolhas trouxeram sofrimento. Escolhas trazem experiências e qualquer experiência que traga aprendizados é positiva.
Busque por harmonia, equilíbrio, pela beleza dos aprendizados durante toda a jornada. E por meio desses aprendizados, poderá reconhecer o amor, como um vento fresco soprando de repente numa tarde de verão, ou no raio de sol que se abre no meio da tempestade. No caminhar de mãos dadas em silêncio, ou em um abraço caloroso. Ou ainda no abanar do rabo de seu cão quando você chega em casa.
O mundo e as relações humanas seriam muito mais harmônicas se reconhecêssemos o que não é amor, podendo agir e reagir segundo os fatos, os observando como realmente são.
Uma das melhores reflexões sobre o amor (se não a melhor):